domingo, maio 12, 2002

Depois de mais ou menos 7 meses foi publicado o frila que fiz pro Secco, na Veja.

Vê lá: http://www2.uol.com.br/veja/especiais/brasil/index.html. Já aviso que o conteúdo é exclusivo para assinantes. A matéria é sobre migração.

A pauta era sobre imigrantes vindos para o Brasil cada vez com mais graduação e bons cargos. Mas virou isso. Também.... depois de tanto tempo.... E deu um trabalhão. Vou colocar o meu texto original aqui:
Desde 1930, quando vieram os últimos imigrantes italianos para cultivar café, o Brasil não vê uma onda migratória tão forte como a que o País vive desde 1990, quando teve início a abertura econômica. A grande diferença é que agora, quem desembarca no País tem melhor nível de escolaridade que boa parte dos brasileiros, vem com emprego garantido e altos salários por conta do alto grau de especialização. Antes, imigrantes buscavam o Brasil como porto seguro contra fome e guerras. Era tudo ou nada, onde vinham tentar sobreviver.
Entre 1993 e o primeiro semestre de 2000, foram concedidas mais de 60 mil autorizações para estrangeiros trabalharem no Brasil. Mas o movimento nos aeroportos de gente que vem trabalhar principalmente em multinacionais não pára por aí. Em 1999, por exemplo, a Coordenação Geral de Imigração do Ministério do Trabalho emitiu 12 mil autorizações de trabalho para estrangeiros. Só no primeiro semestre do ano passado foram concedidas 11.575 autorizações desse tipo. No total, o País conta com aproximadamente 900 mil estrangeiros, de acordo com o Núcleo de Estudos da População da Universidade de Campinas (Unicamp). Isso sem contar os estrangeiros ilegais educação perto do zero, que vêm principalmente da Bolívia e do Peru. Enquanto norte-americanos, ingleses, alemães e franceses vêm para ocupar cargos diretivos no primeiro escalão das companhias, os peruanos e bolivianos desembarcam para trabalhar principalmente no setor têxtil, por baixíssimos salários. No geral, os países da Europa representam 40% das nacionalidades com autorização de trabalho aqui.
De acordo com a doutora em Ciências Sociais Rosana Baeninger, que faz parte do núcleo, essa nova onda de imigrantes vindo para cá é reflexo da reestruturação produtiva pela qual passa o País. Por isso quem vem traz na mala diplomas e mais diplomas. “O aumento de autorizações concedidas para técnicos e pesquisadores é resultado da abertura da exploração de petróleo e as privatizações nas áreas de telecomunicações e energia, além da demanda para os pólos de alta tecnologia em Campinas, São José dos Campos e São Carlos.”
Rosana considera a vinda dos estrangeiros para cá na década como importante não pelo número de entradas registradas pela Polícia Federal. Mesmo porque “o número de brasileiros que sai é bem maior, chega a quase 1,5 milhão, fora os ilegais, segundo o Ministério da Justiça”, mas pelo impacto econômico.
A vinda desses estrangeiros para o País só faz sentido quando contabilizado o volume de investimentos diretos estrangeiros e causados por fusões e aquisições.
De acordo com números do Banco Central, em 96 os investimentos diretos estrangeiros no Brasil – que levam em consideração apenas a entrada de novas empresas – somaram US$ 9,6 milhões. No ano passado, o volume mais que triplicou, chegando a US$ 33,3 milhões. Na última década, segundo estudo da Consultoria KPMG, foram realizados quase 3 mil processos de fusões e aquisições envolvendo empresas estrangeiras.
De acordo com Rosana, essa onda de imigrantes vindos para cá já está em seu segundo estágio. As primeiras empresas que vieram na década passada para cá traziam consigo seus principais dirigentes. Agora é vez de mandarem para cá seus técnicos mais especializados. “Em 1998 uma empresa cliente do setor de autopeças trouxe para cá 150 executivos. Hoje ficou apenas a metade deles. Já voltaram para o país de origem ou foram para outras unidades. Agora vêm os técnicos especializados”, conta Ricardo Xavier, presidente da Manager, empresa especializada na recolocação de executivos. Agora, as empresas que se instalam aqui valorizam o dirigente nacional. “Eles conhecem a cultura local, que é muito diferente de qualquer outro país e conhecem a legislação”, explica Xavier.
Tímido porém vultoso
Tudo começou com a abertura da economia durante o governo Collor, de maneira tímida, explica o sócio da KPMG, André Castelo Branco. Mas envolvendo cifras polpudas. “O processo de fusões internacionais no Brasil começou com a privatização da siderurgia e outros setores de infra-estrutura, que normalmente atraem grandes nomes dos investimentos, com apetite pelo risco.” O ápice das fusões ocorreu em 97, com o início da privatização das telecomunicações e do setor de energia. Isso abriu caminho para empresas menores olharem para o Brasil, sem falar na confiança a mais dada para o segmento bancário. Antes, a restrição para a entrada de bancos cortava qualquer vontade. Era no esquema da reciprocidade. Se três agências de banco nacional – principalmente o Banco do Brasil – eram abertas nos Estados Unidos, o Citibank também podia abrir três agências por aqui. “O inglês HSBC pode ser considerado o propulsor dos investimentos bancários estrangeiros no País”, diz o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega.
Castelo Branco mostra que a tendência das fusões com grupos estrangeiros é só de crescimento – mesmo que o ritmo passe a ser mais lento com as avaliações de retração mundial da economia. No primeiro semestre deste ano já foram concretizados 118 negócios envolvendo estrangeiros. “A quebra do monopólio na exploração do petróleo já gerou várias operações e daqui para frente só vai crescer o volume. O mesmo acontece com as teles, que agora precisam de fornecedores de produtos e serviços.” O consultor também aposta na tecnologia da informação como setor atraente para empresas importadas e seus executivos. “A euforia da Internet já passou. Agora é a vez de poucos e bons grupos. Esse setor tem uma facilidade muito grande em estabelecer negócios, diferente de investimentos em petróleo.”
“Ainda temos muito a crescer. O estoque de capital estrangeiro do Brasil é menor que o da China. Lá, o volume chega a 40% do Produto Interno Bruto (PIB). Aqui, ele não ultrapassa 25% do PIB”, diz Mailson. Segundo André Castelo Branco, daqui em diante será a vez de estrangeiros seguirem a trilha das privatizações de saneamento básico, bancos estaduais e das rentáveis universidades. “A Inglaterra basicamente iniciou o sistema de fusões na década de 70. E até hoje tem espaço para isso, principalmente na área social. De três anos para cá, a moda é investir em hospitais. Por isso, pelo menos até 2006 muitas empresas ainda virão para cá.” Ou seja, ainda muita gente desembarcará nos aeroportos de Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, que são os locais que mais receberam trabalhadores estrangeiros com alto grau de excelência no ano passado.
Benefícios extras
Com a desculpa de estarem expatriados, os executivos estrangeiros no Brasil, na média, ganham o dobro que o empregado brasileiro em cargo semelhante entre salário e benefícios. Ou seja, na ponta do lápis, em reais, a remuneração de um estrangeiro no cargo de presidente, por exemplo, pode chegar a quase R$ 250 mil. Segundo a pesquisa de cargos e salários da Manager, a remuneração para um brasileiro no mesmo cargo varia de R$ 44 mil a R$ 114 mil.
Normalmente o salário é recebido em dólar, e entre os benefícios há uma salário extra e férias em dobro, com direito a até duas passagens aéreas por ano para o país de origem – o que é válido para toda a família. Muitos ainda têm casa alugada pela companhia ou reembolso de parte do aluguel, além de curso de português para toda a família.
E com todas essas regalias, muitos querem ficar no País, mesmo que o contrato de trabalho e a autorização á tenham vencido. Segundo o Ministério da Justiça, entre 1990 e 1999, 16,1 milhões de estrangeiros entraram no País. Somente 11 milhões sairam.

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